O encontro no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, a Embaixadora da Boa Vontade para a Campanha Coração Azul renovou o seu compromisso para ajudar a conscientizar as pessoas sobre esta prática criminosa.
Como parte das iniciativas para o Dia Mundial contra o Tráfico Humano, celebrado em 30 de julho, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) convocou a imprensa nesta sexta-feira (31) para expor a realidade de milhões de pessoas vítimas de traficantes de pessoas e renovar o compromisso da cantora Ivete Sangalo para pôr fim a esta prática no Brasil.
Entre 2010 e 2012, vítimas de 152 diferentes nacionalidades foram encontradas em 124 países. A dimensão desse número, no entanto, representa apenas a ponta do iceberg, uma vez que só ilustra dados oficiais daqueles que conseguiram recuperar a liberdade. A magnitude do problema ainda permanece desconhecida, com milhões de mulheres, crianças e homens ausentes dessas estatísticas, sobrevivendo escravizados como crianças-soldado, mendigos, prostitutas ou trabalhadores forçados.
No evento no Palácio do Itamaraty, no Rio de janeiro, Ivete Sangalo afirmou que se sente útil ao defender esse compromisso. A Embaixadora da Boa Vontade para a Campanha Coração Azul contra o Tráfico de Pessoas desempenha esse papel desde 2013, usando sua notoriedade e talento a favor desta causa.
“Sinto-me honradíssima e mais do que tudo, útil. Fico feliz de poder utilizar o meu talento a favor de um trabalho de muita relevância”, afirmou Ivete. “Chegará um momento em que meu trabalho como embaixadora não será necessário. Mas até lá, enquanto eu existir, enquanto for necessário, defenderei a liberdade do espírito humano.”
Como Embaixadora, Ivete atua como porta-voz da Campanha, levantando a bandeira em seus shows, blogs e outras aparições. A Campanha Coração Azul contra o Tráfico de Pessoas do UNODC foi implementada no Brasil em parceria com o Ministério da Justiça e com o apoio institucional do Grupo Globo. O objetivo da campanha é sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre este crime e destacar os mecanismos de denúncia, fundamentais para a investigação e conclusão dos casos.
“O crime existe não só no momento em que a pessoa é submetida à escravidão, mas desde o momento em que ela é abordada”, explica Ivete. “Existe uma maquinaria enorme por trás desta prática preparada para convencer qualquer um que seu sonho pode ser alcançado”, adicionou, reiterando o papel importante dos formadores de opinião em informar e dissuadir as pessoas a seguir este caminho.
Crime inaceitável
Entre as principais vítimas do tráfico humano estão meninas e mulheres, que representam 70% das pessoas traficadas em todo o mundo. As cifras de crianças vítimas do tráfico também voltaram a crescer em 5% em relação ao período de 2007-2010, contabilizando hoje 33% do total. E apesar do caráter internacional da rede, o perigo ronda perto de casa, com mais de 64% dos traficantes sendo conterrâneos das vítimas.
Na ocasião, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo afirmou que não há lugar em pleno século 21 para o tráfico de pessoas. Um crime “inaceitável” e que provoca profunda “ojeriza” ao “transformar pessoas em objeto”, complementou Em sua fala, o ministro enfatizou que é preciso unir todos os esforços para deixar que esse seja o “crime perfeito” onde os perpetradores acreditam que jamais serão punidos.
Apesar dos avanços realizados por todas as esferas do governo para combater esse crime, muito mais precisa ser feito, admite Cardozo. No entanto, para isso, é preciso contar com a colaboração da sociedade para pôr fim ao medo, denunciar essa prática para que “nós possamos atacar de frente esse crime e cumprir o nosso papel punindo duramente e reprimindo com rigor”.
O representante do UNODC, Rafael Franzini, lembrou as diversas ações realizadas no país durante essa semana para criar consciência sobre o tráfico de pessoas, incluindo o lançamento do Relatório do Ministério da Justiça sobre o tema com dados de 2013 e a iluminação de vários monumentos públicos e cidades com a cor azul da campanha.
“Detectar este delito é muito difícil. Difícil para a polícia, para a justiça e para o próprio cidadão, que muitas vezes cai no engano e se soma as assustadoras estatísticas do problema”, disse Franzini. “Precisamos de todos os recursos para desvelar o engano e chegar ao crime e ao delinquente. A sociedade, o setor privado, a mídia têm um papel fundamental neste enfrentamento. Seja transmitindo experiências, seja denunciando os casos. Mas nós temos que ajudar para que isso aconteça”, disse.
O evento ainda contou com a presença da ministra de Estado Interina de Políticas para Mulheres, Aparecida Gonçalves, a secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, Teresa Cosentino, o secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos e o diretor do Centro de Informação da ONU (UNIC Rio), Giancarlo Summa.
Para todos a mensagem final é clara: não deve haver tolerância contra os traficantes. Hoje, a impunidade contra os perpetradores desse crime é elevada. Dos casos analisados, 40% dos países informaram ter menos de 10 condenações durante o período de 2010-12 e outros 15% não possuem qualquer sentença neste âmbito.
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