terça-feira, 25 de agosto de 2015

No Rio, Jogos Mundiais de Capoeira destacam a Década Internacional de Afrodescendentes

Encontro reuniu mais de 5 mil capoeiristas no Cais do Valongo, onde as histórias do Brasil e África se misturam. Representante das Nações Unidas falou sobre a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024).
Considerada pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a capoeira é uma arte que aproxima as histórias do Brasil e da África. Nascida no Brasil durante o período da escravidão, entre os séculos XVI e XIX, a capoeira não apenas cresceu no continente africano como se propagou pelo mundo.
Fundador e presidente do Abadá Capoeira, Mestre Camisa sintetiza a história da capoeira: “Engravidou no navio negreiro e veio nascer em terra brasileira, sem médico e sem parteira, assim nasceu a capoeira”.
X Jogos Mundiais de Arte Capoeira. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
X Jogos Mundiais de Arte Capoeira. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
“A capoeira surgiu como luta de resistência. Então, era arte, dança, acrobacia… Uma arte com várias artes. A razão da existência da capoeira é mais importante do que o jogo em si. Ela tem o sentido da liberdade”, conta Mestre Camisa, lembrando a importância do encontro que reuniu, no último sábado (22), mais de 5 mil capoeiristas no Cais do Valongo, onde as histórias do Brasil e África se misturam.
Vivendo em Portugal há 16 anos, Mestrando Cascão, que foi aluno de Mestre Camisa, destaca que a capoeira é rica por agregar muitos valores e assumir diferentes formas, já que, em muitos momentos, o capoeirista precisa ser lutador, ou poeta, ou artista.
“A capoeira é uma herança nossa da escravidão. Os africanos trouxeram os elementos para que ela nascesse, assim como as religiões de matrizes africanas.  Em Angola, vemos a capoeira na luta da bassula (onde um derruba o outro usando o pescoço e cintura), por exemplo. Isso só foi possível por conta da interação com os escravos africanos”, completou Cascão.
Abadá-Capoeira de Angola. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
Abadá-Capoeira de Angola. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
A décima edição dos Jogos Mundiais de Arte Capoeira, que aconteceu em agosto, foi realizada no Cais do Valongo, ponto de partida para conhecer a a Herança Africana no Rio de Janeiro. Neste cais, mais de 500 mil africanos escravizados desembarcaram apenas durante o século XIX.
“Eu já sabia deste lugar, mas essa é a primeira vez que eu piso no cais. Saber que, por aqui, no Cais do Valongo, passaram os meus antepassados me emociona bastante. A escravidão foi algo muito triste, mas poder reencontrar parte da nossa história aqui é uma dádiva”,  disse em entrevista ao UNIC Rio o angolano Cabuenha Janguinda, representante do Abadá-Capoeira Angola.
Na foto, Gustavo Barreto, do UNIC Rio, fala sobre a Década Internacional de Afrodescendentes. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
Na foto, Gustavo Barreto, do UNIC Rio, fala sobre a Década Internacional de Afrodescendentes. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
A Roda de Capoeira foi inscrita na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO em novembro de 2014. O anúncio foi feito na sede da organização, em Paris (França).
No contexto da Década Internacional de Afrodescendentes, a ONU esteve presente no encontro para destacar o papel da capoeira na cultura e como instrumento de paz. O debate, que ocorreu no último sábado (22), reuniu Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra; Frei David, representante da ONG Educafro; Gustavo Barreto, do Centro de Informação da ONU para o Brasil (UNIC Rio); Flávio Gomes, historiador; Mestre Camisa, presidente fundador da Abadá-Capoeira; Julio Cesar de Souza, antropólogo; e os desembargadores Paulo Rangel e Ivone Ferreira Caetano.
X Jogos Mundiais de Arte Capoeira. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
X Jogos Mundiais de Arte Capoeira. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
“Depois do lançamento da Década Internacional de Afrodescendentes, esse é o primeiro evento que fazemos e é muito bom que seja com a capoeira porque, além de ser reconhecida pela UNESCO pela sua riqueza cultural,  é usada para aproximar israelenses e palestinos, por exemplo, e para reabilitar crianças-soldado na República Centro-Africana. Ela é um mecanismo de paz”, completou Gustavo Barreto.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário